mardi 29 mai 2012


O PATRIMÓNIO GEOLÓGICO PORTUGUÊS. GEOCONSERVAÇÃO E GEOTURISMO
O Património Geológico como parte integrante do Património Natural, deve ser objecto de conservação, pelo que o reconhecimento da sua importância no contexto das políticas de conservação da natureza tem vindo a adquirir, nos últimos anos um destaque quer em Portugal, quer internacionalmente.
Desde há vários anos que os Serviços Geológicos de Portugal e os organismos que lhe sucederam (Instituto Geológico e Mineiro, Geociências do INETI) vêm desenvolvendo diversas acções visando a caracterização, o estudo, a protecção e a divulgação do património geológico, nomeadamente:
Ø  Proposta de classificação em 1978 dos seguintes locais: lapiás de Cascais-Guincho, duna consolidada de Oitavos, dunas actuais da Crismina, litoral entre o Guincho e Praia das Maças, lapiás da pedra Furada, litoral entre Sesimbra e o Seixalinho, Cabo Mondego e arriba fóssil da Costa da Caparica.

Ø  Publicação de Guias geológicos para diversas áreas Protegidas.

Ø  Realização do V Congresso Nacional de Geologia, (1998), que teve uma secção de Património Geológico, onde foram apresentados 9 trabalhos (publicados no Vol.84 (2) das Comunicações do Instituto Geológico e Mineiro).

Ø  Realização do 1° Seminário sobre Património Geológico (1999) em que foram apresentados 16 trabalhos (Publicação especial destinada aos participantes).

Ø  Projecto Geo- Sítios que compreende fichas com a caracterização de cerca de uma centena de sítios com interesse geológico, e que esta em desenvolvimento.

O Património Geológico engloba o Património Paleontológico, o Património Mineralógico, o Património Geomorfológico, entre outros, salientando a não inclusão do Património Mineiro. De salientar que as colecções de rochas, fósseis e minerais que se encontram em museus, por não se encontrarem em contexto natural e estarem protegidas, não integram normalmente o conceito de Património Geológico, apesar de muitas vezes apresentarem inegável valor patrimonial (Brilha, 2005). Para este tipo de património Brilha sugeriu a criação de um termo específico o de Património Geomuseológico.
A inventariação do Património Geológico Português encontra-se, numa situação de impasse que advém, da não existência de um organismo oficial para assumir a esta responsabilidade, da extinção do Instituto Geológico e Mineiro, e em segundo lugar pelo facto do ICN (Instituto da Conservação Nacional) não ter demonstrado empenho no respeita à geoconservaçao. Assim, o Património geológico Português não se encontra devidamente assente numa estratégia de geoconservaçao, salvo casos isolados. Segundo Brilha (2005), não existe em Portugal uma estratégia de identificação, caracterização e conservação do Património Geológico, sendo que o que existe encontra-se disperso e resulta de acções pontuais.
Todavia, estes trabalhos (pontuais) são essenciais ao conhecimento relativamente ao Património Geológico Português, pelo que segundo Brilha (2005), “… deveriam ser complementados com uma visão integrada a nível nacional que possibilitasse uma geoconservação estruturada e bem suportada”, sendo então necessário uma instituição nacional capaz de assumir esta função. Neste âmbito esta instituição existe à luz do Art.2 do Decreto-Lei n.º 193/93, de 24 de Maio, o ICN, “… é o instituto responsável pelas actividades nacionais nos domínios da conservação da natureza e da Gestão das áreas protegidas”. Contudo, o ICN não tem revelado nos últimos dez anos, nem a vontade politica nem dispõem dos recursos técnicos necessários para ser, de facto, a instituição responsável pela geoconservação em Portugal (Brilha 2005).
A ProGeo em 2002, utilizando uma metodologia que de forma sintética consiste na identificação dos grandes temas ou categorias geológicas que caracterizam o país, seguindo-se a identificação e conservação dos principais geossítios que caracterizam cada categoria, em resultado levou, em 2004, à definição de catorze categorias de âmbito internacional representativas da rica geodiversidade portuguesa, a saber:
Ø  A província metalogénica W-Sn Ibérica
Ø  Bacias terciárias da margem ocidental Ibérica
Ø  Costas baixas de Portugal
Ø  Dinossauros da Ibérica ocidental
Ø  Fosseis Ordovícicos do Anticlinal de Valongo
Ø  Geologia e Metalogenia da Faixa Piritosa Ibérica
Ø  Mármores paleozóicos da Zona Sul Portuguesa
Ø  Meso-cenozóico do Algarve
Ø  O arquipélago dos Açores no ponto triplo América-Eurásia-África
Ø  O Silúrico da Zona da Ossa Morena Portuguesa
Ø  Rede Fluvial, rañas e paisagens de tipo Apalachiano do Maciço Hespérico
Ø  Registo Jurássico na Bacia Lusitânica
Ø  Sistema cársico de Portugal
Ø  Uma transversal à zona de Cizalhamento Varisco em Portugal
Geoturismo                                                                                                                                  
É uma actividade turística que se baseia na geodiversidade e/ou o Património Geológico de uma região que para além da fruição visual que esta actividade favorece, o turista é informado sobre a base geológica, o valor e a necessidade da sua conservação. O Geoturismo tem como algumas das suas caracterizações a utilização de geoformas (feições geológicas e geomorfologicas) como atractivos turísticos, uma busca pelo entendimento da necessidade de que se estabeleçam relações harmoniosas entre o Homem e a Terra, sua morada e fonte de seu sustento, valorização e protecção da Geodiversidade e, consequentemente da Biodiversidade, através de um conjunto de acções denominadas de “Geoconservação”.

A primeira definição de geoturismo a ser amplamente publicada foi a de Hose (1995), segundo a qual “o geoturismo permite aos turistas a aquisição de conhecimento e compreensão da geologia e da geomorfologia de um local, para além do nível de mera avaliação estética”. Segundo o relatório “The Geoturism Study, elaborado pela National Geografic Society( NGS) e a Travel Industry Association dos Estados Unidos (2001), é definido como “um tipo de turismo que mantém ou reforça as principais características do local a ser visitado, concretamente o seu ambiente cultural, estético, património, sem esquecer o bem estar dos seus residentes. Para a NGS, o geoturismo visa minimizar o impacto cultural e ambiental sobre as comunidades que recebem os fluxos turísticos, inserindo-se no conceito mais amplo e alargado de turismo sustentável.

Em 2000, Hose apresenta uma definição segundo a qual o geoturismo “consiste na disponibilização de serviços e meios interpretativos que promovem o valor e o benefício social de geossítios geológicos e geomorfologicos, assegurando, simultaneamente a sua conservação para uso de estudantes e turistas” (Brilha 2005). Neste contexto o geoturismo constitui um meio para promover o valor e benefícios sociais dos locais de interesse geológico e geomorfológico, os seus materiais e para assegurar a sua conservação, para o uso de, por exemplo, estudantes e turistas. Mais tarde foi sugerido que este termo “seja um novo ramo da geologia, que deverá suportar mundialmente o crescimento do ecoturismo” (Patzak, 2001). Matthias & Andreas (2003), referem que o geoturismo é uma forma de turismo baseada no Património Natural de uma região, incluindo os aspectos geológicos, botânicos ou arqueológicos, onde o conceito de desenvolvimento sustentável tem um papel essencial. Nesta óptica, é essencial que a geologia, não seja considerada isoladamente, mas sim inserida no geoturismo num contexto mais amplo, devendo ser desenvolvida uma abordagem integrada das paisagens, como fazendo parte de um todo onde se encontram as características culturais, biológicas e geológicas. Importa acrescentar a definição de Ruchkys (2007) como “um segmento de actividade turística que tem o património geológico como seu principal atractivo e busca sua protecção por meio da conservação de seus recursos e da sensibilização do turista, utilizando, para isto, a interpretação deste património tornando-o acessível ao público leigo, alem de promover a sua divulgação e desenvolvimento das Ciências da Terra”.

Assim, podemos concluir que o geoturismo pode ser considerado uma oportunidade de promoção do Património Geológico, de sensibilização das comunidades locais e do público em geral, da necessidade da sua conservação.

Vale do Douro(geoturismo)
                                          Fonte: http://www.google.pt/imgres?q=GEOTURISMO (consultado 28-05-2012 )

Açores (geoturismo)

                                                       Fonte: http://www.google.pt/search? (consultado em 28-05-2012)

Referências:
Brilha, José (2005) Património Geológico e Geoconservação: A Conservação Da Natureza Na Sua Vertente Geológica. Disponível em
http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?id=2371861 [ consultado em 25 de Maio de 2012].
http://e-geo.ineti.pt/divulgacao/patrimonio/patrimonio.htm  [consultado em26-05-2012]
http://e-geo.ineti.pt/divulgacao/patrimonio/patrimonio.htm  [consultado em 26-05-2012]
http://www.progeo.pt/docs/araujo_2005_r.pdf [consultado em 26-05-2012]

samedi 19 mai 2012


Tema 6 _ Ameaças à Geodiversidade e Estratégias de Geoconservação 
A temática da Conservação da Natureza, tradicionalmente contempla aspectos e preocupações relativas à biodiversidade. Trata-se de uma vertente importante e crucial na conservação da Natureza, no entanto esta abordagem esquece na maioria das vezes as questões relativas a geodiversidade, suporte essencial para a biodiversidade.
Esta percepção advém talvez de uma tendência geral para pensar no mundo biológico como frágil e vulnerável e, portanto, necessitando de conservação, enquanto que o mundo abiótico (montanhas e rochas) é visto como estável, estático e jamais a estar em perigo. Trata-se de uma simplificação grosseira, uma vez que muitas ameaças à geodiversidade do planeta ou áreas locais específicas são comparáveis ​​as enfrentadas pela biodiversidade.
De salientar que os tipos de actividades artificiais que podem conduzir à degradação da geodiversidade dependem dos tipos de valores em causa. Além disso, o impacto de uma operação irá variar dependendo da sensibilidade, estabilidade ou robustez do lugar. Uma operação que teria um efeito devastador em uma área pode ser mais aceitável em outra localização, mais robusta. Isso ocorre porque alguns sistemas são capaz de auto-regeneração num espaço de tempo relativamente curto, devido ao funcionamento contínuo de processos naturais, enquanto outras alterações são irreversíveis porque os processos já não operam ou a mudança a paisagem é fundamental.
A maior parte das ameaças à geodiversidade advém directa ou indirectamente das actividades antropicas, encontrando-se ameaçada a diversas escalas e em graus distintos, indo desde a degradação da paisagem natural a um pequeno afloramento. Assim, podemos considerar as seguintes ameaças directas:
A exploração de recursos minerais e a consequente utilização pelo homem na satisfação das suas necessidades de desenvolvimento, conduziram a destruição de parte importante da geodiversidade, podem constituir uma ameaça à geodiversidade a dois níveis:
Ø  a nível das paisagens - explorações a céu aberto, sem medidas mitigadoras dos impactes negativos causados na paisagem natural.
Ø  ao nível do afloramento - consumo de materiais geológicos, como fósseis ou minerais de valor científico, ou ainda a destruição de formações e estruturas geológicas com valor particular (cones vulcânicos entre outros); a exploração intensiva de inertes nos leitos dos rios, ribeiras, nas zonas costeiras com consequências negativas, afectando os ciclos naturais de transporte e sedimentação.

Desenvolvimento de obras e estruturas – abertura de vias de comunicação, barragens, edifícios de grande envergadura que induzem graves impactes na geodiversidade.
Gestão de bacias hidrográficas - construção de barragens, diques e canais com o objectivo de regularizar caudais e prevenir cheias, causam alterações a dinâmica natural dos cursos de água.
Florestação, desflorestação e agricultura - a vegetação pode ocultar as características geológicas de uma região; a desflorestação por sua vez promove a erosão dos solos; a agricultura industrializada intensiva e o uso de máquinas conduzem a erosão do solo, aliados a utilização de adubos e pesticidas que provocam a contaminação das águas superficiais e subterrâneas.
Actividades militares – treinos, uso de maquinaria pesada, bombardeamentos, utilização de munições podem impactar negativamente o solo (erosão), e contaminar águas superficiais e lençóis subterrâneos.
Actividades recreativas e turísticas – o crescente aumento de actividades recreativas e turísticas, nomeadamente as que se desenvolvem em ambientes naturais, colocam a Geodiversidade, assim como a Biodiversidade sob pressão, citando como exemplo, determinados tipos de desportos praticados em locais sensíveis e com solos frágeis (dunas, montanhas), colocando estas estruturas geológicas em perigo de destruição.
Por outro lado, a progressiva massificação de actividades recreativas, técnico/científicas relacionadas com visitas a grutas causam impactes negativos nesses ambientes, conduzindo à destruição destas estruturas cársicas.
Colheita de amostras geológicas para fins não científicos - Esta actividade implica recolha e transporte de amostras de rochas e minerais que podem ocorrer em zonas públicas ou áreas protegidas com o intuito lucrativo, conduzindo a uma delapidação do património geológico, acrescentando ainda as recolhas efectuadas com fins pedagógicos.
Iliteracia cultural – A deficiente formação técnico/científica na área das Ciências da Terra por parte de responsáveis políticos, técnicos e do público em geral estará, provavelmente, na base da maior parte das ameaças referidas.
Podemos ainda acrescentar um conjunto de ameaças indirectas que não sendo, ameaças directamente imputáveis ao ser humano, são por ele potenciadas: as alterações climáticas, o aquecimento global, o aumento do nível médio do mar, são consequências da acção humana. Por outro lado, a má gestão da faixa litoral, a sua urbanização excessiva e a instalação desregrada de estruturas de “protecção costeira” são factores potenciadores de erosão.
Ameaças à Geodiversidade (exemplos):
Desflorestação
                                         Fonte: google image.
Extração mineira
                                
                                        Fonte: google image.
Exploração intensiva de inertes
 
                                         Fonte: google image
Estratégias de Geoconservação            
O património geológico vem enfrentando diversas ameaças, e, tratando-se de um recurso natural não renovável a sua destruição constitui uma perda irreparável, daí a necessidade de implementação de estratégias de Geoconservação. Assim, as actividades que tem como finalidade a conservação e gestão sustentável do Património Geológico e dos seus processos naturais a ele associados denominam-se por Geoconservação. A geoconservação não pretende proteger toda a geodiversidade, mas apenas os elementos com valores científico, cultura, ou seja, o Património Geológico. Todavia para que a geoconservação se efective é necessário que sejam adoptadas algumas estratégias que se encontram agrupadas, obedecendo as seguintes etapas sequenciais: inventariação, quantificação, classificação, conservação, valorização, divulgação e monitoramento (Brilha (2005).
A inventariação consiste no levantamento sistematizado dos geossítios após ser feito um reconhecimento de toda a área de estudo, sendo seleccionados apenas aqueles que apresentam características excepcionais.
O processo de quantificação é uma tarefa difícil e, actualmente, raramente efectuada, principalmente por não se encontrarem bem definidos os seus principais critérios de base (Brilha, 2005). Ela é considerada por alguns autores a etapa mais difícil pela dificuldade em dar valores, estabelecendo qual geossítio é o mais importante.
A classificação consiste no enquadramento do património geológico às leis para sua conservação, gestão e monitoramento, seguindo percursos distintos, consoante o âmbito em que se enquadram.
Segundo Brilha (2005) o objectivo principal da conservação deverá ser sempre o de manter a integridade física do geossítio, assegurando, ao mesmo tempo, a acessibilidade do público ao mesmo tempo.
A valorização e divulgação dos geossítios são etapas importantes que, quando mal planejadas podem levar à degradação do mesmo. A valorização precede a divulgação e consiste no investimento de instrumentos que valorizem o geossítio, como dotá-lo de informações e meios interpretativos para que o público reconheça a sua importância (a produção de painéis informativos e/ou interpretativos que são colocados estrategicamente, perto de cada geossítio). O monitoramento enquanto etapa final tem por objectivo analisar a evolução da conservação do geossítio. Permite avaliar e orientar medidas de gestão, auxiliando inclusive na definição de políticas ambientais. Brilha (2005), recomenda que cada geossítio deve ter sua estratégia de conservação devido às suas particularidades e que o monitoramento deve ser no mínimo anualmente, o que permitirá a manutenção da sua relevância.
Bibliografia:
Brilha, José (2005) Património Geológico e Geoconservação: A Conservação Da Natureza Na Sua Vertente Geológica. Disponível em:
http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/mod/resource/view.php?id=2371861 [ consultado em 15 de Maio de 2012].

Lopes, L.S.O. & Araújo, J.L.L. PRINCÍPIOS E ESTRATÉGIAS DE GEOCONSERVAÇÃO. OBSERVATORIUM: Revista Eletrônica de Geografia, v.3, n.7, p. 66-78, out. 2011. Disponível em: http://www.observatorium.ig.ufu.br/pdfs/3edicao/n7/5.pdf [consultado em 02 de Maio 2012].

Gray, Murray (2004) Geodiversity valuing and conserving abiotic nature. Chicherter England. Disponível em: http://geoduma.files.wordpress.com/2010/02/geodiversity.pdf [consultado em 07 de Maio de 2012].


lundi 7 mai 2012



2.GEODIVERSIDADE- CONCEITO (Evoluçao)


Ano
Autor
Definição
1980
Kevin Kiernan
“Landform diversity” and “geomorphic diversity”.
1993
Sharples
“ The diversity of earth features and systems”.
1996
Dixon
“the range or diversity of geological (bedrock), geomorphological (landform) and soil features, assemblages, systems and processes”.
1997
Eberhard
2002
Sharples
2000
Stanley
“ variedade de ambientes, fenómenos e processos que produzem paisagens, rochas,  minerais, solos e outros depósitos superficiais formadores de arcabouços que sustenta a vida na Terra”.
2001
Gordon e Leys
a faixa natural (diversidade) de dados geológicos (rochas, minerais e fosseis), feições geomorfológicas (formas da Terra) e solo, incluindo os conjuntos, as relações, interpretações e sistemas”.
2002
Sharples
“geodiversidade é a diversidade de características, conjuntos, sistemas e processos geológicos (substrato), geomorfológicos (formas de paisagem) e de solo, dotados de valores intrínsecos, ecológicos e antropocêntricos”.
2004
Gray
“a variedade(ou diversidade)natural de feições ou elementos geográficos (rochas , minerais e fosseis),geomorfológicas (formas de relevo ou processos activos) e de solo, incluindo suas associações, relações, propriedades, interpretações e sistemas”.
2004
koslowcki
“a variedade natural da superfície da Terra, em seus aspectos geológicos,
geomorfológicos, de solos e aguas superficiais, bem como outros sistemas resultantes de processos naturais ou actividades humanas”.
2007
Serrano Cañadas e Ruiz Plaño
“… elementos litológicos, tectónicos, geomorfologicos, pedologicos, hidrológicos e topográficos, além de processos físicos na terra, nos mares e oceanos”.
2010
Pereira
“o conjunto de elementos abióticos da Terra, incluindo os processos físico-químicos associados, as geoformas, rochas, minerais, fósseis e solos, formados a partir da interacção entre os processos externos e internos da Terra e que são dotados de valores intrínseco, científico, turístico e de uso/gestão”.



Bibliogafia

DE BORBA, A.. Geodiversidade e geopatrimônio como bases para estratégias de geoconservação: conceitos, abordagens, métodos de avaliação e aplicabilidade no contexto do Estado do Rio Grande do Sul. Pesquisas em Geociências, disponivel <http://seer.ufrgs.br/PesquisasemGeociencias/article/view/23832/13823>. Acesso em: 07 Maio de 2012


Olinda Neves


dimanche 6 mai 2012


GEODIVERSIDADE – CONCEITOS E VALORES
1. Observando o meio físico natural que nos rodeia, veremos uma diversidade de ambientes geológicos, fenómenos e processos geradores de paisagens, rochas, minerais, solos e outros depósitos superficiais, ou seja, a geodiversidade, ocorrendo desde a escala microscópica, minerais, até em grande escala, montanhas. A geodiversidade é o suporte de todos os sistemas terrestres e da Biodiversidade, proporcionando os recursos geológicos [qualquer substância de natureza geológica, (sólida, liquida ou gasosa) ou mesmo calor geotérmico] que têm condicionado o desenvolvimento da humanidade, sendo essencial conhecer e compreender o seu valor e o seu papel na dinâmica do nosso Planeta e na própria Vida. Estas partes não vivas do ambiente natural têm valores significativos, e muitos aspectos desta geodiversidade são tão sensíveis a perturbações como a biodiversidade. Além disso, a biodiversidade é dependente da geodiversidade, de modo que a conservação bem sucedida da natureza exige a integração de bioconservação como da geoconservação. Contudo a Conservação da Natureza tem esquecido a sua vertente geológica sua valorização, preservação e repercussão na sociedade.
Assim, a abordagem tradicional à temática da Conservação da Natureza contempla, essencialmente, aspectos e preocupações relativos à biodiversidade. Sem dúvida que esta é uma vertente importante e crucial na conservação da natureza. Essa abordagem omite, no entanto, e na maioria das vezes, as questões relativas à geodiversidade, esquecendo que esta constitui o suporte essencial para a biodiversidade (Brilha, 2005).
A individualização dos conceitos de Património Geológico e de Geoconservação no seio dos temas mais abrangentes de Conservação da Natureza e do Ambiente, representa uma evolução positiva relativamente recente, sendo estes conceitos ainda pouco reconhecidos pela sociedade em geral e, até, por grande parte dos próprios geólogos.
 A crescente consciencialização de que a humanidade é parte integrante do Sistema Terra, e que nele qualquer acção afecta o conjunto, a aceitação inevitável da vulnerabilidade e a finitude dos recursos naturais, assim como a percepção do homem como agente geológico tem contribuído para a compreensão da importância das geociências. 
Neste âmbito vem-se desenvolvendo conceitos importantes que passaram a fazer parte da comunidade científica, nomeadamente:
                                                    
Geodiversidade é um termo muito recente que começou a ser utilizado por geólogos e geomorfologos na década de noventa para descrever a variedade do meio abiótico, no entanto tudo indica que o termo foi utilizado pela primeira vez na Austrália em 1993.
Assim, geodiversidade (ou diversidade geológica) é a variedade (a diversidade) de elementos e de processos geológicos, sob qualquer forma, a qualquer escala e a qualquer nível de integração, existente no nosso Planeta (do grego gê, Terra + latim diversitate, diversidade) 1.
O conceito de geodiversidade engloba todos os materiais e fenómenos geológicos que dão corpo ao Planeta e o modificam (a sua estrutura e a sua superfície) e que, em conjugação com a biodiversidade, define a essência material da Terra e o modo como ela se transforma e evolui. Pode ser usado em abstracto, por exemplo, para designar a geodiversidade do Planeta, ou ser aplicado, concretamente, a qualquer área geográfica, desde uma região local a um continente.
Assim, a geodiversidade de uma dada região é função da variedade de aspectos geológicos dessa região: Paleontológicos, Geomorfológicos, Petrológicos, Tectónicos, Hidrogeológicos, Mineralógicos, Paisagísticos, etc.
Por outro lado, quanto maior a variedade de aspectos geológicos de uma região, mais elevada a sua geodiversidade. Pelo contrário, vasta área onde ocorre menor número de rochas e de aspectos geomorfológicos distintos, terá uma geodiversidade baixa. Contudo, importa salientar que, mesmo áreas ditas com "baixa geodiversidade" são fundamentais, pois em conjunto com as restantes áreas do Planeta, constituem a geodiversidade global.
Para alguns autores a Geodiversidade se limita ao conjunto de rochas, minerais e fósseis, enquanto que para outros é um conceito mais alargado, integrando mesmo as comunidades de seres vivos.
Segundo a Royal Society for Nature Conservation (Reino Unido): a Geodiversidade consiste na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos activos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solo e outros depósitos superficiais que são o suporte para a vida na Terra.
Ainda pode ser definida como a variedade de paisagens, rochas, minerais, fosseis, solos, etc.
Também é de ressaltar a Geodiversidade ou diversidade geológica com acentuada diversidade geocientifica composta por diferentes elementos e processos que no conjunto formam geótopos. Um Geótopo é uma área delimitada, representa um fenómeno geológico especial ou uma combinação de fenómenos geológicos. Então podemos considerar que todas as áreas na Terra fazem parte de um ou vários geótopos, sendo fundamentais para biótopos. Assim, a Diversidade geológica e biológica são duas partes do todo que constitui a diversidade da natureza.
Com base nas diferentes definições, podemos considerar que a Geodiversidade compreende apenas aspectos não vivos do planeta e testemunhos provenientes de um passado geológico (minerais, rochas e fosseis), mas também os processos naturais que actualmente decorrem, dando origem novos testemunhos. Assim, a biodiversidade é definitivamente condicionada pela geodiversidade, uma vez que os diferentes organismos apenas encontram condições de subsistência quando se reúne uma série de condições abióticas indispensáveis, (solo, agua, luz, temperatura, minerais).
Geoconservação
Trata-se de um termo com carácter recente pelo que ainda não reúne consenso entre os especialistas. Surgiu da necessidade de conservar o património geológico que vem enfrentando diferentes tipos de ameaças decorrentes quer de processos naturais, quer de actividades antrópicas. O conceito de geoconservação visa defender a geodiversidade com base nos seus valores pois, o acto de proteger e conservar justifica-se porque lhe é atribuído algum valor. Assim Sharples (2000) e, posteriormente Gray (2004) sistematizaram os valores associados à geodiversidade a seguir descritos de forma sintética:
Valor intrínseco – a geodiversidade deve ser protegida porque é importante por si mesma, pelo que deve ser respeitada por todos;
Valor cultural – a sua importância nas questões arqueológicas e históricas
Valor estético – permite o lazer através da observação de paisagens naturais (geoturismo);
Valor económico – explicado pela dependência humana dos recursos fornecidos pela geodiversidade, nomeadamente: energéticos [(exploração de rochas carbonosas, carvão, petróleo e gás natural, (combustíveis fosseis)]; exploração de minerais metálicos e não metálicos (diamante); energia geotérmica; fornecimento de materiais de construção civil;
Valor funcional – representa o substrato para sustentação dos sistemas físicos e ecológicos;
Valor científico – possibilita a investigação científica em termos geológicos, permitindo conhecer, interpretar e reconstituir a história da terra (fósseis);
Valor educativo – contacto directo com geodiversidade (aulas de campo).
A Geoconservação pode ser então definida como fruição, uso consciente e protecção dos recursos da geodiversidade.
Também pode ser definida como: Todas e quaisquer acções empreendidas no sentido de preservar e de defender a geodiversidade1.
Sharples (2002) resume o conceito da seguinte forma: “A Geoconservaçao tem como objectivo a preservação da diversidade natural, ou geodiversidade de significativos aspectos e processos geológicos (substrato), geomorfologicos (forma da paisagem) e do solo mantendo a evolução natural (velocidade e intensidade) desses aspectos e processos”, defendendo assim a geoconservação não só por ser fundamental para a manutenção da biodiversidade, mas também pelo seu valor intrínseco mesmo quando não associado a qualquer forma de vida.
O objectivo da geoconservação em sentido amplo será a utilização e gestão sustentável de toda a geodiversidade, enquanto que no sentido restrito abarca apenas a conservação de certos elementos da geodiversidade que evidenciam um qualquer tipo de valor superlativo, ou seja, superior a media, citando como exemplo Geossítios.
Geossitiossão ocorrências geológicas que possuem inegável valor científico, pedagógico, cultural, turístico, ou outros, constituindo o património geológico.
Também pode ser definido como, ocorrência de um ou mais elementos da geodiversidade (afloramentos quer em resultado da acção de processos naturais quer devido à intervenção humana), bem delimitado geograficamente e que apresente valor singular do ponto de vista cientifico, pedagógico, cultural, turístico, ou outro.
Geossítios são exposições de rochas ou formas de terreno com alto valor para as geociências, enquanto geotópos são geossítios (muito especiais) distinguidos por valor notável.
Património Geológico
É definido pelo conjunto dos geossitios inventariados e caracterizados numa dada área ou região, ou parcela especial da geodiversidade materializada nos geossítios, que merece protecção para as gerações futuras.
Património geológico, importante componente do património natural, pode ser definido como “um georrecurso não renovável, que, pelo seu valor cultural, estético, económico, funcional, científico e educativo, deve ser preservado para as gerações vindouras” (Brilha, 2005).
Segundo Brilha (2005), património geológico é o conjunto de geossítios de uma determinada região, ou seja, locais bem delimitados geograficamente, onde ocorrem um ou mais elementos da geodiversidade com singular valor do ponto de vista científico, pedagógico, cultural e turístico.
O conceito de Património geológico também pode ser entendido como o conjunto de recursos naturais não-renováveis, de valor científico, cultural ou educativo, que permite conhecer, estudar e interpretar a história da evolução geológica da Terra e os processos que a modelaram (Sharples, 2002).
O património geológico pode, ainda, ser considerado como mais uma componente para o desenvolvimento económico dos espaços naturais, permitindo acrescentar a expressão georrecurso, entendido como o elemento, conjunto de elementos, lugares e espaços de valor geológico que atendam ao menos uma das condições: i) elevado valor científico e/ou didáctico que justifique protecção/gestão específica; ii) susceptibilidade de uso objectivando incrementar a atractividade sobre uma região.
Geomonumentos são ocorrências geológicas que, pela sua elevada importância e pelo facto de constituírem recursos valiosos não renováveis, devem ser preservados e respeitados2.
Área de interesse científico, é definido como local com uma excepcional concentração de geossítios, esta classificação só se aplica quando se registam em média, mais de dez geossitios por Km2 (Braga, 2005). O patrimônio geológico é usualmente protegido indiretamente, entre os valores biológicos, paisagísticos, estéticos ou culturais dos espaços naturais. O espírito conservacionista, marcadamente bioconservacionista, progrediu rapidamente para uma visão holística da natureza, passando a incluir e valorar os elementos geológicos não só por sua importância científica ou didática, mas por reconhecer neles a base dos ecossistemas.
Geoparques
Segundo a definição da UNESCO, um geoparque é "um território de limites bem definidos com uma área suficientemente grande para servir de apoio ao desenvolvimento sócio-económico local" 4.
Deve abranger um determinado número de sítios geológicos de relevo ou um mosaico de entidades geológicas de especial importância científica, raridade e beleza, que seja representativa de uma região e da sua história geológica, eventos e processos. Poderá possuir não só significado geológico, mas também ao nível da ecologia, arqueologia, história e cultura. Representa o patrimônio geológico de importância internacional, cujo objetivo é o de explorar, desenvolver, e celebrar os vínculos entre este patrimônio geológico e todos os outros aspectos do património natural, cultural e imaterial da região. Pretende conectar a sociedade humana em todos os níveis para o planeta que chamamos de casa, para comemorar como o nosso planeta e a sua historia ao longo de 4600 milhões de anos moldou cada aspecto das nossas vidas e nossas sociedades.
Também podemos adicionar o conceito de Património Natural que designa “algo com características físicas, biológicas e geológicas extraordinárias; habitats de espécies animais ou vegetais em risco e áreas de grande valor do ponto de vista científico e estético ou do ponto de vista da conservação3.
Tipos de Património Natural:

1. Formações físicas e biológicas, ou grupos destas formações, de valor universal incalculável do ponto de vista estético e científico.

2. Formações geológicas e fisiográficas e áreas bem delimitadas que constituam o habitat de espécies animais ou vegetais em risco de valor incalculável do ponto de vista da ciência e da conservação.
3. Sítios naturais ou áreas naturais bem delimitadas de valor universal incalculável do ponto de vista da ciência, da conservação ou da beleza natural. 
Pelo exposto podemos concluir que os conceitos descritos irão assumir nos próximos anos uma importância crescente no contexto de uma preocupação ecológica que visa a gestão e a conservação do património natural. Só assim se pode assegurar que as actividades antrópicas salvaguardem as riquezas geológicas e biológicas, promovendo a sua valorização e uso de forma sustentável.
Bibliografia
Brilha J. (2005) – Património Geológico e Geoconservação – A conservação da Natureza e Sua Vertente Geológica.
Geoconservation.pdf  
1http://pt.wikipedia.org/wiki/Geodiversidade [consultado em 28-04-2012]
2 http://pt.wikipedia.org/wiki/Geomonumento  [consultado em 04-05-12]
3 http://www.icm.gov.mo/exhibition/tc/nhintroP.asp    [consultado em  04-05-2012]
4 http://www.unesco.org/new/en/natural-sciences/environment/earth-sciences/geoparks  [consultado em 05-05-2012]
Olinda Neves (1102702)





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